Traquina afirma que "O primeiro poder dos jornalistas é a decisão última de decidir o que é notícia, sabendo que a notícia dá existência aos acontecimentos ou à problemática". (2005, p. 203). Quando essa decisão se repete de forma quase orquestrada por diversos veículos de comunicação, se estabelece uma agenda em torno de um fato, e o jornalismo passa a determinar sobre o que as pessoas irão pensar e o que elas irão discutir com amigos, conhecidos e familiares.
O espaço indefinido e o imediatismo característicos da Internet sugerem, a primeira vista, uma quebra com esse paradigma nas primeiras investidas do jornalismo on-line no Brasil. Entretando, se a espectativa era de que a diversidade de assuntos oferecidos por veículos jornalísticos, tradicionais ou não, o que vemos hoje frustra essa visão: a reverberação de notícias ao longo do dia em espaços jornalísticos da Internet reproduz o agendamento da sociedade, esteja ela em rede ou não.
No final da tarde do dia 16 de junho, quatro jornais on-line de visibilidade nacional traziam como manchete a acusação de marginais feita pelo governador do Rio de Janeiro a militares que admitiram ter entregue a traficantes três jovens encontrados mortos em lixão:
G1: 'Marginais' não honraram o Exército, diz governador do RJ
JB Online: Cabral diz que militares são marginais
O Globo: Sérgio Cabral: militares que agiram no Morro da Providência são marginais
Folha Online: Cabral chama de "marginais" militares suspeitos de mortes
As manchetes secundárias dos sites também se repetem. Sobre a renúncia do prefeito de Juiz de Fora, os jornais on-line trazem:
G1: Preso, prefeito de Juiz de Fora renuncia;
Vice assume e quer 'choque de gestão'
JB Online: Após prisão, prefeito de Juiz de Fora renuncia
O Globo: Na prisão, prefeito de Juiz de Fora renuncia
Folha Online: Vice assume Prefeitura de Juiz de Fora e promete "choque de moralidade"
E essas repetições acontecem dia após dia, perpetuando o agenda setting dos veículos tradicionais e, para o leitor comum, com mais credibilidade.
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